De gente que chora até os que pedem oração. Dos que não dispensam o boné como acessório aos que desabafam os problemas da vida pessoal para o recrutador. O que não faltam são histórias de gafes cometidas em entrevistas de emprego. Algumas, de tão inusitadas, parecem brincadeira. Mas o papo é sério. Segundo a consultora de RH Linda Melo, a cada 100 pessoas que participam de processos seletivos, até 90 perdem a vaga por cometer esses deslizes.
“Na maioria das vezes, o nervosismo é a grande causa dos problemas”, justifica a psicóloga Gisele Oliveira, do Serviço Municipal de Intermediação de Mão de obra (Simm). Ela conta que uma das situações mais inusitadas que presenciou em processos seletivos foi a de um candidato que pediu para rezar o Pai-nosso pelo sucesso da turma. “Ficou todo mundo constrangido, mas fizemos a oração. Depois, demos um feedback a ele de que aquela não era a postura adequada para uma seleção de emprego”, conta.
Já a consultora Linda Melo recorda de uma candidata que revelou para uma turma inteira ter perdido a virgindade muito jovem. “Havíamos pedido para que se falasse de alguma situação inusitada e ela, de repente, começou a contar da vida sexual. Saiu totalmente do foco”.
Sociodiretor de uma empresa de recrutamento, Paulo Lopes afirma que um dos deslizes mais comuns cometidos por soteropolitanos em entrevistas de emprego é se mostrar íntimo do empregador. “As pessoas ultrapassam o limite da intimidade e começam a chamar pelo apelido, ou de ‘inho’, ‘meu rei’, ‘negão’. É preciso saber separar muito bem as coisas”, diz.
Os consultores ouvidos pelo CORREIO pontuaram cinco gafes corriqueiras nas entrevistas de trabalho. São elas: intimidade, desabafo, mentira, postura e currículo mal escrito. “A gente já recebeu aqui até currículo com carta para Deus, com prece pela aprovação no processo seletivo”, lembra Gisele Oliveira.
Com relação à postura, Paulo Lopes destaca o gestual. “Bocejar, por exemplo, é um indicativo de tédio. Jamais faça isso. A pessoa precisa saber que a linguagem corporal fala mais do que a verbal”, afirma. Gisele, por sua vez, lembra que não é adequado ir para uma entrevista com óculos escuros na cabeça, fones de ouvido ou boné. “Essas coisas devem ser guardadas com a pessoa antes de entrar na sala”.
Mentir também nunca é aconselhável. Dizer que tem experiência em alguma área ou inglês fluente tendo cursado o básico, só vai atrapalhar. “Já tivemos candidatos aqui que garantiram ter fluência no inglês e quando começamos a entrevista no idioma, ele não sabia para que lado ir”, recorda Linda.
O desabafo, dizem os especialistas, também é uma gafe muito comum. A pessoa chega na entrevista de emprego e começa a contar os problemas com a família, financeiros ou como o seu último chefe era mau caráter. “Isso ocorre, principalmente, quando elas são questionadas sobre por que deveriam entrar na empresa ou por que saíram do emprego anterior”, explica Gisele. “Nessa hora, a pessoa precisa esquecer que está ali pelo dinheiro ou porque o filho está passando necessidade. O ideal é que ela demonstre apenas a sua capacidade profissional”, ensina.
Ao preparar o currículo, indicam os consultores, tenha foco. Nada de colocar objetivos complexos ou detalhar demais a sua vida. Atenção também para o português. “Não adianta a candidata fazer uma seleção para área administrativa e colocar que tem experiência como técnica de enfermagem. É preciso saber exatamente o que busca”, diz a psicóloga Naja Carvalho.
Para ela, essas gafes são consideradas quando se avalia o desempenho global do candidato na seleção. “Então o mais prudente é não agir dessa maneira”, finaliza.
Fonte: Jornal Correio